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https://repositorio.ufms.br/handle/123456789/3631
Tipo: | Tese |
Título: | A toponímia indígena em Mato Grosso do sul: um estudo etnolinguístico |
Autor(es): | Camila André do Nascimento da Silva |
Primeiro orientador: | Aparecida Negri Isquerdo |
Resumo: | Esta tese tem como objeto de investigação a toponímia indígena rural do estado de Mato Grosso do Sul e concebe o topônimo, na sua essência, como signo linguístico, discutindo sua relação com a cultura e a história social do homem que habita e/ou habitou o espaço nomeado. O corpus da pesquisa reúne 1.750 topônimos que nomeiam acidentes físicos rurais pertencentes aos 79 municípios sul-mato-grossenses, em sua grande maioria extraídos do Sistema de Dados informatizados do Atlas Toponímico do Estado de Mato Grosso do Sul (ATEMS), com atualização por meio de consulta aos mapas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE/2010). A pesquisa orienta-se pelos seguintes objetivos: investigar a influência indígena no processo de nomeação dos acidentes geográficos do espaço estudado; evidenciar a contribuição vocabular ameríndia ao léxico da língua portuguesa e demonstrar que os topônimos de base indígena são parte integrante da identidade linguístico-cultural do estado de Mato Grosso do Sul. Como primeira hipótese de pesquisa considerou-se a tese de que os topônimos de base indígena foram influenciados por particularidades sócio-histórico-culturais e preservados na nomenclatura geográfica do Estado, privilegiando elementos da natureza circundante, como a flora, a fauna, a água, o solo. Na busca de resposta para a segunda hipótese constatou-se que os topônimos indígenas analisados, especialmente os de estrutura complexa, evidenciam um processo de soldadura ortográfica, o que amplia a proposta de formação morfológica dos topônimos de Dick (1992) com a discussão desse novo processo de geração de nomes compostos. A análise dos dados foi orientada, fundamentalmente, pelas orientações teórico-metodológicas propostas por Longnon (1920); Dauzat (1947); Drumond (1965) e Dick (1982; 1987; 1990; 1992; 1997; 2000; 2006; 2008). A descrição etimológica e a consequente análise da língua de origem dos topônimos foram subsidiadas por obras que versam sobre línguas indígenas, como Rodrigues (1951; 1993; 1996; 1999; 2002); Edelweiss (1958; 1969); Gregório (1980) e Seki (1999; 2000), incluindo, em especial, dicionários de línguas indígenas, como Sampaio (1928); Barbosa (1956); Tibiriçá (1985; 1989); Cunha (1998; 1999); Navarro (2005; 2013); Assis (2008); Guasch; Ortiz (2008) e Stradelli (2014). Em relação à motivação (DICK, 1992) os dados confirmam que as taxionomias de natureza física, com 81,37%, prevalecem sobre as de natureza antropocultural, com 13,60% (5,03% dos topônimos aguardam descrição etimológica que subsidiem a classificação). Esses dados demonstram que a influência indígena é mais intensa nos topônimos de natureza física, justamente por se relacionarem ao ambiente cuja nomeação faz parte do universo lexical do denominador, principalmente os motivados pela presença de plantas, animais e água. O produto deste estudo evidenciou maior incidência de topônimos de origem indígena na mesorregião Sudoeste e na microrregião de Iguatemi, áreas que abrigam contingentes significativos de populações indígenas: respectivamente, 46,00% e 23,08% do corpus analisado. No que se refere às categorias taxionômicas, foram identificadas no corpus três taxes com maior índice de produtividade: os fitotopônimos (37,37%); os zootopônimos (24,97%) e os hidrotopônimos (11,60%), todas de natureza física. Já em relação à estrutura morfológica, foi apurado maior produtividade dos topônimos compostos por justaposição (32,28%) e dos compostos por aglutinação (27,60%), enquanto os de estrutura simples alçaram a terceira posição (16,57%), e os compostos híbridos e simples híbridos (10,40% e 5,31%) o quarto e o quinto lugar, respectivamente. No que diz respeito à língua de origem, os resultados confirmam que a toponímia indígena tem forte influência na toponímia do Estado, o que foi atribuído, especialmente, a condicionantes socioambientais no processo de nomeação e à concentração de povos indígenas, sobretudo, do Tupi, com 59,65% de ocorrências e do Guarani com 5,65%. Entre os topônimos híbridos destacaram-se duas categorias: a composição Tupi + LP (10,91% dos casos) e a LP + Tupi (8,34% das ocorrências), sinalizando a contribuição indígena ao léxico da língua portuguesa. Em síntese, os resultados da pesquisa confirmam a forte influência da história social no léxico toponímico, a importância das pesquisas toponímicas para o resgate de aspectos linguísticos, culturais e ideológicos de uma comunidade de falantes e o papel da toponímia indígena como um bem imaterial importante para o patrimônio ambiental, cultural e linguístico de uma comunidade de falantes. |
Abstract: | This thesis has as its object of investigation the rural indigenous toponymy of the state of Mato Grosso do Sul and conceives the toponym, in its essence, as a linguistic sign, discussing its relation with the culture and the social history of the man who inhabits and/or inhabited the named space. The research corpus gathers 1,750 toponyms that name rural physical accidents belonging to the 79 municipalities in the state of Mato Grosso do Sul, most of them extracted from the computerized data system of the Toponymy Atlas of the State of Mato Grosso do Sul (ATEMS), updated by consulting the maps of the Brazilian Institute of Geography and Statistics (IBGE/2010). The research is guided by the following objectives: to investigate the indigenous influence in the naming process of geographical accidents in the studied space; to evidence the Amerindian vocabular contribution to the lexicon of the Portuguese language and to demonstrate that indigenous-based toponyms are an integral part of the linguistic-cultural identity of the state of Mato Grosso do Sul. As a first research hypothesis we considered the fact that indigenous-based toponyms were influenced by socio-historical-cultural particularities and preserved in the geographic nomenclature of the state, privileging elements of the surrounding nature, such as flora, fauna, water, and soil. In the search for an answer to the second hypothesis, it was found that the analyzed indigenous toponyms, especially those with a complex structure, show an orthographic ‘welding’ process, which extends Dick (1992) proposal for the morphological formation of toponyms with the discussion of this new process of generating compound names. The data analysis was guided, fundamentally, by the theoretical and methodological orientations proposed by Longnon (1920); Dauzat (1947); Drumond (1965) and Dick (1982; 1987; 1990; 1992; 1997; 2000; 2006; 2008). The etymological description and the consequent analysis of the language of origin of the toponyms were supported by works on indigenous languages, such as Rodrigues (1951; 1993; 1996; 1999; 2002); Edelweiss (1958; 1969); Gregório (1980) and Seki (1999; 2000), including, in particular, dictionaries of indigenous languages, such as Sampaio (1928); Barbosa (1956); Tibiriçá (1985; 1989); Cunha (1998; 1999); Navarro (2005; 2013); Assis (2008); Guasch; Ortiz (2008) and Stradelli (2014). Regarding motivation, the data confirm that taxonomies of a physical nature, with 81.37%, prevail over those of an anthropocultural nature, with 13.60% (5.03% of the toponyms await etymological description to support the classification). These data show that the indigenous influence is more intense in toponyms of a physical nature, precisely because they relate to the environment whose naming is part of the lexical universe of the denominator, especially those motivated by the presence of plants, animals and water. The result of this study showed a higher incidence of toponyms of indigenous origin in the southwest mesoregion and the micro-region of Iguatemi, areas that hold significant contingents of indigenous populations: 46.00% and 23.08% of the analyzed corpus, respectively. With regard to taxonomic categories, three taxes with the highest productivity index were identified in the corpus: phytotoponyms (37.37%); zootoponyms (24.97%) and hydrotoponyms (11.60%), all of a physical nature. As for the morphological structure, the toponyms composed by juxtaposition (32.28%) and by agglutination (27.60%) had the highest productivity, while the simple structure toponyms ranked third (16.57%), and the hybrid and simple hybrid compounds (10.40% and 5.31%) ranked fourth and fifth, respectively. Regarding the language of origin, the results confirm that indigenous toponymy has a strong influence in the toponymy of the state, which was attributed, especially, to socio-environmental conditioning factors in the nomination process and the concentration of indigenous people, especially Tupi, with 59.65% of occurrences and Guarani with 5.65%.Among the hybrid toponyms, two categories stood out: the composition Tupi + LP (10.91% of the cases) and LP + Tupi (8.34% of the occurrences), indicating the indigenous contribution to the Portuguese language léxicon. In summary, the results of the research confirm the strong influence of social history in the toponymic lexicon, the importance of toponymic research to rescue linguistic, cultural and ideological aspects of a community of speakers and the role of indigenous toponymy as an important immaterial asset for the environmental, cultural and linguistic heritage of a community of speakers. Key-words: Onomastics; Toponymy; Indigenous Languages; Ethnolinguistics; Morphology; ATEMS. |
Palavras-chave: | Onomástica Toponímia Línguas Indígenas Etnolinguística Morfologia ATEMS. |
País: | Brasil |
Editor: | Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul |
Sigla da Instituição: | UFMS |
Tipo de acesso: | Acesso Aberto |
URI: | https://repositorio.ufms.br/handle/123456789/3631 |
Data do documento: | 2020 |
Aparece nas coleções: | Programa de Pós-graduação em Letras (Campus de Três Lagoas) |
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