Use este identificador para citar ou linkar para este item: https://repositorio.ufms.br/handle/123456789/7185
Tipo: Dissertação
Título: Narrativas de Indígenas Urbanos Terenas sobre a Saúde Mental da comunidade durante a Pandemia de COVID-19
Autor(es): EDUARDO GODOY DA ROCHA
Primeiro orientador: Alberto Mesaque Martins
Resumo: A pandemia da COVID-19 mobilizou as autoridades sanitárias pelo mundo inteiro, devido aos altos índices de transmissão e letalidade da doença, que ocasionaram a morte de milhares de pessoas. A pandemia impôs desafios sanitários, sobretudo aos grupos socialmente vulneráveis, dentre os quais se incluem os povos originários e indígenas urbanos, ou que vivem em territórios demarcados, que, assim como outros grupos sociais, se depararam com os efeitos do distanciamento social em sua saúde mental, além de dificuldades de acesso aos serviços de saúde. As singularidades desses grupos e a necessidade de medidas de atenção à saúde que levem em consideração suas particularidades étnicas indicam a importância de investigações que incluam os povos indígenas e originários. Nesse sentido, os Terenas que vivem em uma aldeia urbana, situada na cidade de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, compõem a população a ser estudada neste trabalho. Assim, esta dissertação tem como objetivo compreender as narrativas desses indígenas urbanos acerca do impacto da pandemia de COVID-19 na saúde mental de sua comunidade. A pesquisa foi desenvolvida em duas etapas: na primeira, foi realizada uma revisão integrativa, buscando identificar e analisar as produções científicas que consideram os impactos da pandemia de COVID-19 na saúde mental de povos indígenas brasileiros. Para isso, foram consultados os bancos de dados da Scientific Electronic Library Online (SciELO), dos Periódicos Eletrônicos em Psicologia (Pepsic) e da Biblioteca Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (Lilacs), utilizando os termos booleanos "indígenas" e “COVID-19”. O corpus de análise foi composto por 17 publicações. Na segunda etapa, foram realizadas entrevistas narrativas com 07 indígenas, sendo um homem (cacique) e seis mulheres, que vivem na aldeia urbana Terena, escolhida como contexto da investigação. As entrevistas foram gravadas, transcritas e submetidas à Análise Fenomenológica Interpretativa. A revisão integrativa da literatura indica que, durante a pandemia, a saúde mental dos indígenas foi prejudicada, sendo mais comprometida por sua relação com os brancos do que pela perda de vidas pelo novo coronavírus. Os governos, ao implantarem as medidas de biossegurança orientadas pela Organização Mundial de Saúde e as estratégias eurocentristas para contenção da pandemia nas comunidades indígenas da América Latina, infligiram todo um saber e cultura que, ao mesmo tempo que foi ineficaz no controle da COVID-19, também promoveu angústia e acentuou aspectos da colonização. De modo geral, as entrevistas revelam que, sobretudo nos primeiros meses da pandemia, os indígenas urbanos a percebiam como um fenômeno muito distante e compartilhavam a ideia de que a nova doença não chegaria ao Brasil com o mesmo potencial letal. Os entrevistados também percebem a pandemia como mais um dos desdobramentos do processo de colonização dos povos originários brasileiros. Diante da pandemia, com alto e descontrolado índice de contágio e vários casos de mortes, a população Terena passou a conviver com o medo do contágio, de morrer e perder entes queridos, assim como da ausência de tratamentos e da escassez de meios de garantia da sobrevivência. Além disso, as medidas de distanciamento social, ao mesmo tempo que protegiam do contágio, produziam sentimentos de tristeza e medo, especialmente pela diminuição da interação comunitária, muito presente na sociabilidade desse grupo. Percebe-se ainda que o luto esteve muito presente nas falas dos entrevistados, seja por parentes vitimados pela COVID-19, pela perda do modo de vida anterior, ou pela perda da sua própria identidade, que teve que se modificar para se adaptar à nova realidade. Os indígenas participantes relatam dificuldades de acesso aos serviços de saúde, bem como o descaso do governo federal na atenção aos povos indígenas, durante a pandemia. Nesse sentido, as igrejas evangélicas e a própria comunidade foram apontadas como os principais suportes do grupo durante esse período. O estudo aponta para a necessidade de se ampliar a compreensão acerca das necessidades dos povos originários e indígenas, durante a pandemia, refletindo sobre os prejuízos à saúde mental desse grupo. Além disso, faz-se necessária a construção de práticas de saúde mental que deem voz a esses grupos e que considerem as suas especificidades, em uma perspectiva interseccional.
Abstract: The COVID-19 pandemic has mobilized health authorities all over the world due to the high rates of transmission and lethality, causing the death of thousands of people. The pandemic has imposed health challenges, especially on socially vulnerable groups, among which are Indigenous peoples and urban Indigenous peoples or those living in demarcated territories who, like other social groups, have faced the effects of social distancing on their mental health, in addition to difficulties in accessing health services. The singularities of this group and the need for health care measures that take ethnic aspects into account indicate the importance of investigations that include Indigenous and native peoples. In this sense, we place the Terenas, who live in an urban village, located in the city of Campo Grande, Mato Grosso do Sul, which make up the population to be studied in this work. Thus, this dissertation aims to understand the narratives of urban Indigenous people about the impact of the COVID-19 pandemic on the mental health of a Terena community that resides in an urban village in Campo Grande, Mato Grosso do Sul. The research was developed in two stages: in the first, an integrative review was carried out, seeking to identify and analyze the scientific productions that consider the impacts of the COVID-19 pandemic on the mental health of Brazilian Indigenous peoples. For this, the Scientific Electronic Library Online (SciELO), the Periódicos Eletrônicos em Psicologia (Pepsic) and the Latin American and Caribbean Literature in Health Sciences (Lilacs) databases were consulted, using the Boolean terms "Indigenous" and "COVID-19". The analysis corpus consisted of 17 publications. In the second stage, narrative interviews were conducted with 07 Indigenous people, one man (cacique) and six women, who live in the urban village of Terena, chosen as the context of the investigation. The interviews were recorded, transcribed and submitted to Interpretive Phenomenological Analysis. The integrative literature review indicates that, during the pandemic, the mental health of Indigenous people was impaired, being more compromised by their relationship with whites than by the loss of lives due to the new coronavirus. Governments, by implementing biosecurity measures guided by the World Health Organization and Eurocentric strategies to contain the Pandemic in Indigenous communities in Latin America, inflicted a whole knowledge and culture that, while being ineffective in controlling COVID-19, it also promoted anguish and aspects of colonization. In general, the interviews reveal that, especially in the first months of the pandemic, urban Indigenous people perceived the pandemic as a very distant phenomenon and shared the idea that the new disease would not arrive in Brazil with the same lethal potential. Respondents also perceive the pandemic as one of the consequences of the colonization process of Brazilian native peoples. Faced with the pandemic, with a high and uncontrolled rate of contagion and several cases of death, the Terena population began to live with the fear of contagion, of dying and losing loved ones, as well as the lack of treatments and the scarcity of means of guaranteeing the survival. In addition, social distancing measures, while protecting against contagion, produced feelings of sadness and fear, especially due to the decrease in community interaction, which is very present in the sociability of this group. It is also noticed that mourning was very present in the interviewees' speeches, either by a relative victimized by COVID-19, by the loss of the previous way of life or by the loss of their own identity that had to change to adapt to the new reality. Participating Indigenous people report difficulties in accessing health services, as well as the federal government's neglect in caring for indigenous peoples during the pandemic. In this sense, the evangelical churches, and the community itself were identified as the main supporters of the group during this period. The study points to the need to broaden the understanding of the needs of Indigenous and indigenous peoples during the pandemic, reflecting on the damage to the mental health of this group. In addition, it is necessary to build mental health practices that give voice to this group and consider their specificities, in an intersectional perspective.
Palavras-chave: COVID-19
Indígenas
Narrativas
Saúde Mental
Psicologia da Saúde
País: Brasil
Editor: Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
Sigla da Instituição: UFMS
Tipo de acesso: Acesso Aberto
URI: https://repositorio.ufms.br/handle/123456789/7185
Data do documento: 2023
Aparece nas coleções:Programa de Pós-graduação em Psicologia

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