Atividade antibacteriana na saliva de espécies de quirópteros em fragmentos de cerrado e entorno urbano de Campo Grande, Mato Grosso do Sul

Abstract

Os morcegos são associados a várias zoonoses, e estão suscetíveis a uma infinidade de micro-organismos, porém pouco se sabe sobre a relação destes morcegos com a microbiota. Para contribuir com a descrição desta importante relação entre microbiota e hospedeiro, o objetivo deste trabalho foi identificar a microbiota bacteriana da cavidade oral e investigar a atividade antibacteriana presente na saliva de duas espécies de quirópteros: uma espécie frugívora – Artibeus planirostris e uma espécie insetívora – Nyctinomops laticaudatus e verificar possíveis diferenciações ligadas aos hábitos alimentares diferentes. Para isso foram realizadas coletas em duas localidades de Campo Grande (Reserva Florestal da Base Aérea de Campo Grande e Estádio Pedro Pedrossian). Para a análise da microbiota da cavidade oral foram capturados 16 morcegos, sendo oito de cada espécie. As amostras da cavidade oral foram coletadas através de hastes flexíveis estéreis que eram introduzidas na boca com auxilio de pinça sem ponta esterilizada. As amostras foram encaminhadas para Laboratório de Microbiologia da UCDB, onde foram realizados todos os procedimentos para a identificação das linhagens bacterianas através de identificação pela morfologia macroscópica das colônias e testes bioquímicos. Um total de seis gêneros de bactérias foi identificado: Staphylococcus spp., Serratia spp., Klebsiella spp., Pantoea spp., Hafnia spp. e Shigella spp.. Já para a análise de atividade antibacteriana foram coletadas amostras de 30 indivíduos de cada espécie, utilizando hastes flexíveis estéreis e sugando a saliva com auxílio de micropipeta. No laboratório, a saliva passou por alguns processos para a separação da parte orgânica. Os testes antibacterianos foram realizados in vitro, com algumas bactérias disponibilizadas pelo Laboratório de Purificação de proteínas e suas Funções Biológicas da UFMS, utilizando técnica de microdiluição e calculando o percentual de inibição do crescimento. Apesar de o estudo ter sido realizado com cinco bactérias diferentes, apenas duas (Staphylococcus epidermides e Klebsiella pneumoniae) reagiram com atividade de inibição de crescimento bacteriano em toda duração do ensaio para as bactérias, sendo que para K. pneumoniae tiveram dois picos com crescimento maior do que o do controle contendo a suspensão bacteriana. As outras bactérias demonstraram um possível efeito bacteriostático nas primeiras faixas de leituras. Porém essas taxas de inibição ainda são muito baixas quando comparadas ao controle positivo e com o decorrer do ensaio o potencial de inibição cessa-se e a saliva passa a ser substrato, facilitando o crescimento bacteriano. Apesar de não demonstrar diferença entre as espécies estudadas tanto para a microbiota da cavidade oral como para a atividade antimicrobiana da saliva, o presente estudo corrobora com outros estudos sobre microbiota em morcegos, porém faz-se necessário um conhecimento cada vez maior da microbiota natural dos morcegos para entendermos melhor se os morcegos são de fato portadores de bactérias patogênicas, se existe alguma relação simbiótica e o quanto os morcegos são afetados por doenças bacterianas, e este se trata de um estudo pioneiro e experimental sobre atividade antimicrobiana em morcegos, com o intuito de abrir as portas para novos estudos.

ABSTRACT - Bats are associated with various zoonoses, and are susceptible to many micro-organisms, but little is known about the relationship of these bats with microbiota. To contribute to the description of this important relationship between microbiota and host, the objective of this study was to identify the bacterial microbiota of the oral cavity and investigate this antibacterial activity in the saliva of two species of bats: a frugivorous species - Artibeus planirostris and an insectivorous species – Nyctinomops laticaudatus and verify possible differences linked to the different eating habits. They were collected in two localities of Campo Grande (Forest Reserve of Air Base of Campo Grande and Pedro Pedrossian Stadium). For the analysis of the oral cavity microbiota were captured 16 bats, eight of each species. The samples of the oral cavity were collected using sterile swabs that were introduced in the mouth with the aid of sterile tweezer. The samples were sent to microbiology laboratory of UCDB, where were carried out all procedures for the identification of bacterial strains by means of identification by macroscopic colony morphology and biochemical tests. A total of six genera of bacteria were identified: Staphylococcus spp., Serratia spp., Klebsiella spp., Pantoea spp., Hafnia spp. and Shigella spp.. For the antibacterial activity of analysis of 30 individual samples were collected from each species, using sterile swabs and sucking the saliva with the aid of the micropipette. In the laboratory, saliva went through some processes for separating the organic part. The antibacterial tests were conducted in vitro with some bacteria provided by Laboratory of Protein Purification and their Biological Functions of UFMS using microdilution technique and calculating the percentage growth inhibition. Although the study was carried out with five different bacteria, only two (Staphylococcus epidermidis and Klebsiella pneumoniae) reacted with activity of inhibiting bacterial growth in whole duration of the test for bacteria, wherein for K. pneumoniae had two peaks with higher growth than the control containing the bacterial suspension. The other bacteria showed a possible bacteriostatic effect in the first reading ranges. However, these are inhibition rates still very low when compared to the positive control and the course of the test the inhibitory potential ceases and the saliva becomes the substrate by facilitating bacterial growth. Although not demonstrate difference between the species studied both for the microbiota of the oral cavity and for the antimicrobial activity of saliva, this study corroborates with other studies of microbiota in bats, however it becomes necessary to a growing knowledge of the natural microflora of the bats to better understand if the bats are actually carriers of pathogenic bacteria, if there is a symbiotic relationship and how much bats are affected by bacterial diseases, and that it is a pioneering and experimental study on antimicrobial activity in bats, in order to open the door to new studies.