Determinantes sociais de saúde relacionados à epidemiologia da tuberculose : subsídios para reorientar os serviços de saúde

Abstract

O combate à tuberculose (TB) exige uma abordagem com ações multissetoriais para que se obtenha um resultado efetivo, incluindo ações que envolvam aspectos sociais, econômicos e ambientais, além do olhar biomédico que, sozinho, não obteve sucesso. Assim, compreender como ocorre a tuberculose, de forma ampliada, considerando o indivíduo e o espaço social onde esse está inserido, permite um maior controle sobre a doença. Este estudo teve como objetivo descrever os determinantes sociais de saúde (DSS) e os fatores relacionados à epidemiologia da TB no estado de Mato Grosso do Sul (Brasil). Trata-se de um estudo exploratório do tipo ecológico, com análise multivariada e de geoprocessamento de dados secundários obtidos na plataforma de dados do Ministério da Saúde, IBGE e Secretaria Estadual de Saúde de Mato Grosso do Sul. Fizeram parte do estudo 78 municípios. Os resultados sugerem que municípios com menores índices de desenvolvimento social e econômico, e com maior desigualdade social, apresentam serviços de saúde menos eficazes para TB, devido à baixa oferta de testagem anti-HIV, ao maior percentual de abandono do tratamento e de óbitos e à baixa oferta de tratamento diretamente observado (TDO). Os casos de TB no Mato Grosso do Sul apresentam distribuição espacial aleatória, por não apresentar agrupamento. A cobertura da Estratégia Saúde da Família (ESF) e TDO em alguns municípios contribuem para adesão ao tratamento e para o controle do número de casos de TB. Para outros municípios, essas estratégias têm sido pouco eficazes na redução do Coeficiente de Incidência da TB (CI-TB) e das porcentagens de abandono ao tratamento. Municípios que possuem reservas indígenas apresentam um CI-TB superior aos demais, fator relacionado à vulnerabilidade étnica e racial. O perfil sociodemográfico da coinfecção TB/HIV, em comparação com o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) dos municípios, indica uma predominância de casos em indivíduos do sexo masculino com baixa escolaridade e um percentual de óbitos elevado. O maior número dos casos de coinfecção TB-HIV ocorre em municípios com um IDH alto. No período do estudo, 9,7% dos indivíduos com TB apresentavam coinfecção com o vírus HIV, porém, em 29,3% dos casos notificados, a investigação da situação sorológica não foi realizada. O percentual de cura dos casos de TB no período de estudo foi inferior ao preconizado pelo Ministério da Saúde, a taxa de abandono do tratamento identificada ficou acima do esperado e o percentual de óbitos em decorrência da TB mostrou-se elevado. A associação entre casos de coinfecção TB/HIV e IDH em áreas com maior densidade populacional indica a necessidade de adoção de estratégias específicas de acordo com as características das localidades. Esses resultados apontam para a necessidade de reorientação do modelo assistencial adotado para o controle da TB, buscando implantar ações intersetoriais efetivas para mudanças nos determinantes sociais associados à TB.

The fight against tuberculosis (TB) requires an approach with multisectoral actions, in order to obtain an effective result, including actions that involve social, economic and environmental aspects, besides the biomedical view that, unassisted, was unsuccessful. Therefore, the understanding of how tuberculosis occurs in an expanded way, considering the individual and the social space where it is inserted allows a greater control over the disease. This study aimed to identify the social determinants of health (SDH) and factors related to TB epidemiology in the state of Mato Grosso do Sul (Brazil). This is an ecological, exploratory study with multivariate analysis and data geoprocessing, which included 78 municipalities in the state of Mato Grosso do Sul. The results suggest that municipalities with a lower index of social and economic development and higher social inequality are Those in which TB services are less effective due to the low supply of anti-HIV testing, higher percentage of treatment abandonment and deaths, and a low supply of Directly Observed Treatment Strategy - DOTS . The spatial distribution in the State of Mato Grosso do Sul was considered random, and the formation of clusters was not identified. There are groups of municipalities where Family Health Strategy – FHS and DOTS contribute to adherence to treatment and to control the number of TB cases. For other municipalities, these strategies have been ineffective in reducing TB incidence rate (CI-TB), and treatment abandonment. Municipalities that have indigenous reserves have a much higher CI-TB than others, a factor related to ethnic/racial vulnerability. The socio-demographic profile of TB/HIV coinfection in comparison to the Human Development Index of the municipalities indicates a predominance of cases in males, with a low level of education, a high percentage of deaths and a correlation between a greater number of cases of TB-HIV in municipalities with a high HDI. These studies point to the need to reorient the care model adopted for TB in Brazil, seeking to implement actions that are effective to improve the living conditions of the population so that they are able to make decisions, change behaviors and achieve well-being. The articulation between different sectors, such as Non-Governmental Organizations (NGOs), Schools, Universities and the Press, can contribute to the consolidation of actions to control SDH.