Características clínicas e epidemiológicas de pacientes submetidos à diálise peritoneal em Mato Grosso do Sul

Abstract

Introdução: A Doença Renal Crônica Terminal (DRCT) tornou-se problema de saúde pública no Brasil e em todo o mundo. A diálise peritoneal (DP) oferece maior autonomia, menores efeitos adversos comuns durante a hemodiálise (HD) e diminuição de custos. No entanto, é uma terapia pouco utilizada, estando mais de 90% dos nefropatas em utilização da HD. Poucos estudos têm sido realizados sobre a situação da população em DP e as razões para baixa utilização. Sendo assim, esta pesquisa objetiva caracterizar a clientela submetida à DP em Mato Grosso do Sul; elencar os fatores que influenciam na escolha desta modalidade de terapia renal substitutiva (TRS) e propor um modelo de programa de orientações para pessoas com diagnóstico médico de DRCT. Material e Método: a pesquisa foi realizada em cinco instituições do estado que oferecem a DP, e os participantes responderam a questionários através de entrevistas realizadas pessoalmente e exclusivamente, onde foram abordados sobre aspectos sociodemográficos, clínicos, detalhes do tratamento e suas percepções sobre a terapia. Os dados foram analisados com estatística descritiva e apresentados em figuras e tabelas. A avaliação da associação: a) entre o grau de escolaridade e o aparecimento de complicações; b) entre o tratamento conservador e a primeira terapia utilizada; c) entre se recebeu informações sobre DP antes do início do tratamento e a primeira terapia utilizada; e d) entre o tipo de tratamento utilizado e o nível de satisfação em relação ao tratamento, foi realizada por meio do teste do qui-quadrado. Resultados: Foram entrevistadas setenta pessoas, sendo 61,4% pertencente a uma única instituição. As características sociodemográficas mostram que 51,4% pertencem ao sexo masculino e 48,6% ao sexo feminino; a faixa etária corresponde a 30-59 anos, com média de idade de 55,17 anos; predominam a raça branca (53,9%); casados (54,3%); fora do mercado de trabalho (87,1%); aposentados (57,1%); de baixa escolaridade (42,9%); com renda mensal entre 1 e 4 salários mínimos (82,9%); residentes no mesmo município do serviço de nefrologia (54,3%). A etiologia mais frequente (55,7%) entre os participantes foi a hipertensão arterial sistêmica (HAS), seguida de diabetes mellitus (DM) com 42,9%. A cardiopatia foi a comorbidade mais mencionada (21,4%); e os sintomas no início do tratamento foram: edema (64,3%), fraqueza (44,3%) e náuseas e vômitos (37,1%). Em relação às características do tratamento dialítico, apenas 25,7% dos diagnósticos de DRCT foram feitos por médicos da atenção básica. Para 62,9% da amostra não houve a oportunidade tratamento conservador (TTC). Não houve associação entre a primeira terapia utilizada e a realização ou não do TTC (valor de p=0,087). Em relação as características da terapia, 80% da amostra encontra-se em diálise peritoneal automatizada (DPA), e 68,6% negam complicações com a terapia. Não houve associação entre a escolaridade e o aparecimento de complicações. Os participantes em DP relatam nenhuma dificuldade (37,1%) e insegurança inicial (14,3%). Houve associação significativa entre a satisfação e a terapia utilizada, sendo percentual de pacientes que se declararam muito satisfeitos com a diálise peritoneal foi significativamente maior do que o daqueles submetidos à hemodiálise (57,1% versus 4,3%). Conclusões: O conhecimento das características desta população específica pode ser útil para a melhor utilização da terapia. Os dados sugerem a necessidade de melhorar a qualidade do atendimento desde o serviço primário e de intervenções rigorosas no âmbito da educação pré diálise, propondo a construção de modelos de orientações aos pacientes para fortalecer sua autonomia, e a consequente satisfação e qualidade de vida. Além disso, o fortalecimento da terapia de DP estaria contribuindo para a diminuição de gastos do Estado e trazendo benefícios clínicos, além dos pessoais, aos clientes, bem como fortalecendo a atuação do enfermeiro nefrologista em seu papel de educador em saúde.

ABSTRACT - Introduction: End Stage Renal Disease (ESRD) has become a public health problem in Brazil and worldwide. Peritoneal dialysis (PD) offers greater autonomy, less common adverse effects during hemodialysis (HD) and decrease costs. However, this therapy isn´t often used, while more than 90% of people with Chronic Kidney Disease (CKD) are using HD. Few studies have been conducted to view the situation of PD population and the reasons for its low use. Thus, this study aims to characterize the customers submitted to DP in Mato Grosso do Sul; list the factors that influence the choice of this renal replacement therapy (RRT) and propose a model of orientation program for people with a diagnosis of ESRD. Material and Method: The survey was conducted in five institutions that offer PD, and participants responded to questionnaires through interviews personally and exclusively, where they were approached about sociodemographic, clinical, treatment details and their perceptions of therapy . Data were analyzed with descriptive statistics and presented in figures and tables. The evaluation of the association: a) between the level of education and the onset of complications; b) between conservative treatment and the first therapy used; c) between it received information about DP before the treatment and the first therapy used; and d) between the type of treatment used and the level of satisfaction with the treatment was performed using the chi-square test. Results: Seventy people were interviewed - 61.4% belonging to a single institution. The sociodemographic characteristics show that 51.4% were males and 48.6% for females; the age range corresponds to 30-59 years and mean age of 55.17 years; predominately white (53.9%); married (54.3%); unemployed (87.1%); retired (57.1%); low educational level (42.9%); with monthly income between 1 and 4 minimum wages (82.9%); resident in the same county nephrology service (54.3%). The most common etiology (55.7%) among participants was systemic arterial hypertension (SAH), followed by diabetes mellitus (DM) with 42.9%. Heart disease was the most mentioned comorbidity (21.4%); and symptoms at the start of treatment were edema (64.3%), weakness (44.3%) and nausea and vomiting (37.1%). Regarding dialysis characteristics, only 25.7% of ESRD diagnoses were made by physicians of primary care. About 62.9% haven´t have conservative treatment (CT). There was no association between the first therapy used and the performance or nonperformance of the TTC (p = 0.087). Regarding the characteristics of the therapy, 80% of the sample lies in automated peritoneal dialysis (APD), and 68.6% deny complications from therapy. There was no association between education and the onset of complications. Participants in PD reported no difficulty (37.1%) and initial insecurity (14.3%). There was a significant association between satisfaction and the therapy used, and the percentage of patients who reported being very satisfied with peritoneal dialysis was significantly higher than those on hemodialysis (57.1% versus 4.3%). Conclusions: The knowledge of the characteristics of this specific population can be useful for optimal utilization of PD therapy. The data suggests the need to improve the quality of care even of primary service and also rigorous interventions in the pre dialysis education, like proposing the building of models to guide patients to strengthen for their autonomy, and consequently satisfaction and quality of life. In addition, the strengthening of PD therapy would be contributing to the reduction of costs and bringing clinical and personal benefits and strengthening the role of the nurse nephrologist in its health educator role.