Literatura de quem: a carnavalização na literatura infantil

Abstract

Este ensaio discute a carnavalização na literatura infantil a partir do conceito elaborado por Mikhail Bakhtin, compreendendo-a como um princípio estético marcado pela inversão de hierarquias e pela suspensão temporária das normas sociais. O texto reflete sobre a afinidade entre a lógica carnavalesca e a literatura destinada à infância, tradicionalmente associada a funções pedagógicas e moralizantes, mas também atravessada por práticas de transgressão simbólica. Ao problematizar a relativização da autoridade adulta, a valorização do lúdico e a experimentação linguística, o ensaio destaca o potencial crítico da literatura infantil carnavalizada. Como exemplificação, analisa-se a saga Harry Potter, evidenciando como a inversão de papéis e a criação de mundos alternativos ampliam a agência das personagens infantis, ainda que de forma provisória. Argumenta-se, por fim, que a carnavalização, embora funcione como recurso estético de questionamento, tende a ser limitada pela restauração final da normatividade adulta, o que convida à reflexão sobre os alcances e os limites da transgressão na literatura infantil.